
Há cerca de cinquenta anos, a senhora Gage, uma viúva já idosa, estava sentada no jardim de sua casa, num povoado chamado Spilsby, no Yorkshire. Apesar de coxear e de ver já bastante mal, esforçava-se por arranjar um par de botas, pois mantinha-se com apenas alguns xelins por semana. Na altura em que martelava as botas, o carteiro abriu a porta e lançou-lhe uma carta para o colo.
A víuva e o Papagaio

A víuva e o Papagaio
Chegou a Lewes uma terça-feira à noite. Naquela época, é preciso dizê-lo, não havia uma ponte para atravessar o rio em Southease, nem sequer se tinha construído a estrada de Newhaven. Para chegar a Rodmell era necessário atravessar o rio Ouse por um vau de que ainda subsistiam vestígios, mas só era possível com a maré baixa, quando as pedras do leito do rio afloravam à superfície. O senhor Stacey, o agricultor, ia de carro a caminho de Rodmell e ofereceu-se amavelmente para levar a senhora Gage.
Chegaram a Rodmell pelas nove horas, numa noite de Novembro, e o senhor Stacey indicou cortesmente à senhora Gage a casa situada no cimo do povoado que o seu irmão lhe deixara. A senhora Gage bateu à porta. Não obteve resposta. Voltou a bater. Uma voz muito estranha e aguda respondeu: «Não estou em casa!» A senhora Gage ficou tão surpreendida que se não tivesse escutado passos que se aproximavam teria desatado a correr. O caso é que uma velhota, chamada senhora Ford, abriu a porta. — Quem é que gritou «Não estou em casa»? — perguntou a senhora Gage. — O palerma do pássaro! — disse a senhora Ford muito aborrecida, apontando para um papagaio grande e cinzento.
— Quase me rebenta a cabeça com os seus gritos. Passa o dia no poleiro como uma estátua e sempre que nos aproximamos dele grita «Não estou em casa». Era um pássaro muito bonito, segundo pôde observar a senhora Gage, pena que tivesse as penas pouco tratadas. — Se calhar está triste ou tem fome — comentou. Mas a senhora Ford disse que simplesmente tinha mau génio. Pertencera a um marinheiro e tinha aprendido a falar no Oriente. Contudo, acrescentou, o senhor Joseph gostava muito dele e chamava-lhe James; explicou-lhe que falava com ele como se fosse um ser racional. A senhora Ford não tardou a ir-se embora.
A senhora Gage pegou num pouco de açúcar que levava consigo e ofereceu ao papagaio, dizendo-lhe num tom muito suave, que não ia fazer-lhe nenhum mal, que era a irmã do seu velho dono, que vinha tomar posse da casa e que faria o que fosse possível para o tornar tão feliz quanto pode ser um pássaro.
Estava na cama, sumida nesses pensamentos, quando um toque na janela a sobressaltou. O ruído repetiu-se várias vezes. A senhora Gage saiu da cama o mais depressa que pôde e aproximou-se da janela. Ali, para sua surpresa, sentado no parapeito, havia um enorme papagaio. A chuva cessara e estava uma formosa noite de luar. De início assustou-se muito, mas depois reconheceu o papagaio cinzento, James, e a alegria embargou-a ao ver que o animal se tinha salvo.
A víuva e o Papagaio
Abriu a janela, acenou a cabeça várias vezes e disse-lhe que entrasse. O papagaio respondeu movendo suavemente a cabeça de um lado para o outro, voou até ao chão, avançou uns passos, voltou-se para ver se a senhora Gage o seguia e regressou ao parapeito, onde ela o observava muda de espanto. «Os animais actuam com muito mais sentido do que nós pensamos», reflectiu. — Muito bem, James — disse em voz alta, falando-lhe como se fosse um ser humano. Vou acreditar na tua palavra. Espera um momento para que me arranje um pouco. Pôs um grande avental, desceu as escadas sem fazer ruído e saiu sem despertar a senhora Ford. O papagaio parecia satisfeito. Avançava aos saltos uns metros à sua frente, em direcção à casa em ruínas.
- Full access to our public library
- Save favorite books
- Interact with authors

Há cerca de cinquenta anos, a senhora Gage, uma viúva já idosa, estava sentada no jardim de sua casa, num povoado chamado Spilsby, no Yorkshire. Apesar de coxear e de ver já bastante mal, esforçava-se por arranjar um par de botas, pois mantinha-se com apenas alguns xelins por semana. Na altura em que martelava as botas, o carteiro abriu a porta e lançou-lhe uma carta para o colo.
A víuva e o Papagaio

A víuva e o Papagaio
Chegou a Lewes uma terça-feira à noite. Naquela época, é preciso dizê-lo, não havia uma ponte para atravessar o rio em Southease, nem sequer se tinha construído a estrada de Newhaven. Para chegar a Rodmell era necessário atravessar o rio Ouse por um vau de que ainda subsistiam vestígios, mas só era possível com a maré baixa, quando as pedras do leito do rio afloravam à superfície. O senhor Stacey, o agricultor, ia de carro a caminho de Rodmell e ofereceu-se amavelmente para levar a senhora Gage.
- < BEGINNING
- END >
-
DOWNLOAD
-
LIKE
-
COMMENT()
-
SHARE
-
SAVE
-
BUY THIS BOOK
(from $3.39+) -
BUY THIS BOOK
(from $3.39+) - DOWNLOAD
- LIKE
- COMMENT ()
- SHARE
- SAVE
- Report
-
BUY
-
LIKE
-
COMMENT()
-
SHARE
- Excessive Violence
- Harassment
- Offensive Pictures
- Spelling & Grammar Errors
- Unfinished
- Other Problem
COMMENTS
Click 'X' to report any negative comments. Thanks!