Conta-se uma lenda muito antiga, do tempo dos reis, acerca de um monstro marinho gigante chamado Olho de Fogo que, a certa altura,  se erguera do mar. 

    Sabia-se que o seu estranho corpo conseguia esticar-se tanto que lhe  permitia atacar vários lugares em simultâneo.

     Se a sua cabeça fosse vista em Caminha, provavelmente o fim da sua cauda estava no Algarve.

    O seu único olho vermelho parecia um incêndio na noite. Dizia-se, à boca pequena, entre os pescadores, que fora visto ao largo de Aveiro, numa noite em que a tempestade afastara os homens do mar.

    O Rei de Portugal, que se encontrava de visita a Aveiro, mandou buscar, entre a sua comitiva, o feiticeiro mor do reino  para que este arranjasse uma solução. 

    "Sim, a besta era demasiado grande para ser vencida pelo pequeno grupo de soldados de que dispunha naquele lugar", pensou o Rei. 

    O feiticeiro, de imediato, invocou todos os seus poderes mágicos e, após observar a sua bola de cristal, afirmou:  "Majestade, não temos outra alternativa, disse a medo, devemos entregar a Princesa Ricardina para que o monstro abandone as costas do nosso país!"

    Irritado, o Rei disse: "Tem que haver outra solução! Não entrego a minha linda filha, o meu tesouro mais precioso, a qualquer besta deste mundo, nem do outro!"

    O rei mandou uma mensagem para todo o reino de Portugal e dos Algarves: 

    "Ao homem que vencer este  monstro ser-lhe-á dado o meu tesouro mais precioso."

    Muitos responderam ao chamado, seduzidos pelo tesouro. Sonhavam com ouro, prata, diamantes, sem saberem que o Rei se referia à sua filha.

    Porém, mal  avistavam o monstro, ouviam a sua respiração pesada e assustadora, era vê-los a fugir aterrorizados para todos os lados. O último ainda disse:

    "Não há tesouro na terra que valha tamanho sacrifício!"

    Ao tomar conhecimento que grandes cavaleiros e soldados fugiram do monstro, um jovem e corajoso agricultor resolveu ir até à costa para perceber melhor a gravidade da situação. 

    Chamava-se Pedro, era alto e magro, e habituado a trabalhos duros.

    Filho de agricultores, sabia que esse seria o seu destino. Mas sempre sonhara em ser um herói respeitado por todo o reino. 

    Ao Pedro, não lhe interessava o precioso tesouro que o Rei oferecia, por mais rico que fosse, queria era derrotar o monstro e salvar o reino.   

    O Pedro tinha por hábito ir à pesca ao domingo no pequeno barco que construíra com o pai. Quando chegou a noite, lançou-se ao mar, armado com a sua coragem, com um balde de ervas venenosas e uns explosivos, que o seu tio João, soldado do Rei, esquecera na sua casa no mês passado. Remou até avistar o monstro que dormia tranquilamente.

      O jovem esperou pelo amanhecer…

    O monstro, lentamente, abriu a sua grande boca, com uns dentes enormes e afiados, até que a água do mar começou a entrar por ela. Aproveitando a corrente, o Pedro entrou pela bocarra da besta e passou pela sua garganta.